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quarta-feira, 27 de julho de 2011

O TESTEMUNHO DA DOR (DIVÓRCIO)


Ariovaldo Ramos escreve texto sobre seu divórcio


Quarta Capa - Meu texto para o livro, sobre o divórcio, de Virgínia Martin


O senhor quer se divorciar? Perguntou-me a juíza. O que deixava a situação ainda mais embaraçosa. Eu estava esperando por um juíz! Não, quem quer se divorciar é ela. Respondi!

O senhor leu os autos e está pronto para assinar o documento? Sim. Respondi, sem ênfase.

No fim, parece que era só disso que se tratava: assinar um documento.

Pronto! Meses de angústia, e de lágrimas, e de orações aparentemente não respondidas, como num passe de mágica, estariam resolvidos com uma assinatura! Eu estaria livre!

Mas quem disse que eu queria me ver livre do que quer que fosse?

Eu havia vivido mais de duas décadas só para isso. Com acertos, com erros, com pedidos e frases de perdão, eu vivi só para o casamento: todos os sins e todos os nãos que disse, os disse para continuar o casamento. Todo o processo de desmascaramento de minha imaturidade, e todo o processo doloroso de crescimento tinha como pivô o casamento.

Eu não queria me livrar disso... Eu não sabia mais viver sem isso!

Estava pronto para encaminhar a minha prole à vida, para viver a vida com quem, depois de muitas idas e vindas eu, realmente, queria viver.

O senhor já assinou? Ah! Sim. Está aqui. Respondi à voz que interrompia-me em meio a pensamentos em que eu tentava processar a minha dor.

Saí com aquele papel nas mãos, e aquele papel em minhas mãos era tudo o que eu conseguia sentir sem doer.

Não tinha idéia do que a estivesse acometendo. Não me importava! Ela quis o divórcio! Ela era a culpada!

Naquela altura eu não sabia que muita coisa iria mudar, e teria de mudar para que a esperança retomasse espaço em minha vida. A culpa seria repartida. Muita coisa que entendi resolvida por palavras ditas, ainda que com sinceridade, teriam de ser revistas por mim e em mim. Muita coisa que entendi ser de menor importância teria de ser revalorada. E muita dor que nunca entendi ter provocado teria de ser assumida.

O tempo passou! Superei! Não sem dor e não sem acabar por provocar dor em quem não tinha nada a ver com isso!

A Virgínia diz que é preferível estar no redemoinho do que no olho do furacão. Concordo! Mas do redemoinho a gente acaba por atingir gente que estava só assistindo ao tufão. E isso aumenta o lamento que a gente sabe que vai carregar.

Acalmou o meu coração! Mas se instalou um indisfarçavel medo.

Eu sou um pregador. Deus tem sido gracioso para comigo. As palavras que o Senhor tem me dito têm calado no coração de muitos irmãos e irmãs. E isso é um grande consolo. Mas, apesar disso, toda a vez que subo ao púlpito, que me é sagrado, sinto que, por mais aceito que eu seja, eu carrego um estigma, e não consigo tirar a dor de meus olhos, porque eu sei que eles estão certos, eu passei por algo que eles não querem passar e não sabem como isso pode acontecer com alguém que precisa estar no púlpito.

Pois é, minha amiga... Eu sei, eu sei!

Mas a roda tem de girar, e gira, e Deus, que ama, nos alenta e nos faz ver o sentido que transcende!

Parabéns! É isso! É preciso exorcizar tudo o que tenta nos roubar a identidade.

Muitos serão ajudados!

Fonte:
http://www.creio.com.br/2008/noticias01.asp?noticia=14628